Eu havia acabado de chegar à China. Desde o momento em que entrei na academia, imaginei que sofreria um certo grau de hostilidade por ser milionário, o que se provou tolerável. Embora eu treinasse meu físico e minha mente desde os treze anos, eu não possuía conhecimento em artes marciais. Por isso, mantive-me discreto e evitei confrontos, mas com a firme determinação de alcançar a excelência.

Ao chegar, fui imediatamente cativado por uma mulher impressionante. Ela tinha cabelos loiros-escuros, na altura dos ombros e com franja, realçados por mechas pretas. Seu maxilar era bem definido, mas mantinha a feminilidade. Os olhos eram cinza-azulados, com íris distintas, e seus lábios eram carnudos e avermelhados. Suas mãos eram firmes, porém delicadas, adornadas por garras proeminentes. O corpo era atlético, resultado de exercícios regulares, com pele clara e ombros largos, bochechas coradas e dentes brancos e afiados. Ela parecia uma dualidade: um anjo e, ao mesmo tempo, um ser quase animal, uma beleza selvagem que Deus havia deixado na Terra.

Logo fui chamado à atenção pelo mestre e conheci meus colegas de treino: Shiva, Richard Dragon (meu melhor amigo) e o irritante do Tigre. Ele vivia para me atormentar e iniciar brigas, o que eu tentava ignorar. Certa noite, questionei o mestre sobre a identidade da garota que vi no primeiro dia. Ele disse que ela era uma pessoa incomum e revelou seu nome: Universo. Perguntei-lhe se ela era diferente por lavar roupas. Ele questionou minha intenção, ao que respondi que, apesar de toda a sua beleza, eu não via maldade nela, apenas um olhar de inocência.

Um dia, ao retornar ao dormitório, esbarrei nela logo após um treino rigoroso com o mestre, fazendo-a derrubar todas as roupas do cesto. Ela ficou visivelmente nervosa. Ofereci ajuda, e, assim que terminamos, ela me elogiou e se ofereceu para me auxiliar nos treinos. Eu aceitei, pois pressenti que sua ajuda seria crucial. De fato, como o mestre havia dito, ela era única; era perceptível apenas por estar perto dela. Senti que ganharia um grande reforço na minha busca por aprimoramento.

Nas noites em que treinávamos, preciso admitir que ela não era nada complacente. No entanto, eu compreendi sua filosofia: trabalhar na escuridão para dominar a luz. Ela era dura e me confrontou com verdades que eu já sabia, incluindo uma que eu suspeitava: que ela também havia sofrido uma perda. Treinávamos de todas as formas, muitas vezes em uma cachoeira. Eu sofria intensamente, mas entendia que era para meu próprio bem e para que eu atingisse o máximo de meu potencial. Contudo, eu sabia que nunca a superaria.